FONTE
Mês das crianças. Ah, as crianças são incríveis! Eu e meu esposo tivemos, até o momento, três filhos: dois nascidos, Matheus e Raphael, 7 anos e 6 anos, respectivamente; e um que não soubemos o sexo; foi para junto de Deus no terceiro mês de gestação. Aprendemos muito com os nossos filhos e com outras crianças. Não foi à toa que Jesus disse: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus” (Mt 18, 3-4).
Outro dia, estávamos ajudando Matheus a fazer um trabalho de escola sobre o pavão. Escutamos deduções incríveis do Matheus e Raphael a respeito de aves, como “a galinha d’Angola é uma espécie de peru” e “os perus são predadores dos pavões”. Ah, e tudo tinha uma lógica... Amamos ouvir Matheus lendo, a seu jeito, a Bíblia para Raphael e percebermos Raphael repassando os ensinamentos a seus amiguinhos. Os pais entram em contato conosco para dizer que seus filhos querem rezar todas as noites e participar da missa. Isso nos enche de muita alegria.
Claro que passamos por dificuldades também. Nem sempre acordamos bem. Nem sempre as crianças acordam bem. Há doenças, dificuldades financeiras, nem sempre as crianças obedecem, fazem muito barulho, reclamam, choram, enfim, há isso tudo. Mas não consigo imaginar mais nossas vidas sem nossos filhos. Ainda acho que eu e meu esposo Joel, fizemos uma boa escolha quando decidimos ser pai e mãe.
Há argumentos convencendo muitos casais constituírem uma família com o menor número possível de filhos ou, mesmo, nenhum filho. Argumentos como “Os filhos geram gastos”, ou, “Tiram a liberdade do casal”, ou “Não hão mais como ter tempo para os filhos”. E o compromisso feito no altar no dia do casamento fica esquecido; o compromisso de aceitar os filhos concedidos por Deus e educa-los na fé cristã. Penso que gerar filhos, biologicamente ou por adoção, não é fruto de uma decisão simples. Mas não podemos deixar que argumentos contrários à vida nos deixem convencer a não vivermos o chamado à paternidade e à maternidade.
Em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amores Laetitia, o Papa Francisco aponta o seguinte: “Lá dentro da casa onde o homem e sua esposa estão sentados à mesa, aparecem os filhos que os acompanham ‘como brotos de oliveira’ (Sl 128/127,3), isto é, cheios de energia e vitalidade. Se os pais são como os alicerces da casa, os filhos constituem as ‘pedras vivas da família (cf. 1Pd 2,5) (...) ‘Os filhos são herança do Senhor, é graça sua o fruto do ventre. Como flechas na mão de um guerreiro são os filhos gerados na juventude. Feliz o homem que tem uma aljava cheia deles: não ficará humilhado quando vier à porta para tratar com seus inimigos’ (Sl 127,126, 1.3-5). É verdade que estas imagens refletem a cultura de uma sociedade antiga, mas a presença dos filhos e, em todo o caso, um sinal de plenitude da família na continuidade da mesma história de salvação, de geração em geração” (n. 14). Lindo, não é mesmo?
Eu não tive muitos filhos. Mas conheço famílias que optaram por constituir uma família maior, não por “falta de juízo” como dizem alguns, mas por livre escolha. E, aí? Essas famílias têm sua escolha respeitada?
Nós, cristãos católicos, por muitas vezes “torcemos o nariz” para algum casal que chega com suas crianças para participar da missa. “As crianças são barulhentas”. “Ah, se fosse meu filho...” E lançamos olhares de julgamento sobre os pais. Ou, mesmo, no Grupo de Oração, fechamos o espaço de participação das crianças, simplesmente, esquecendo-nos que, se as crianças são capazes de perceber o amor de Deus, deveria ser pensado um grupinho de oração para elas. Já existem muitos Grupinhos de Oração no Brasil. “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham” (cf. Mt 19, 14). Elas são prediletas de Jesus.
Fico pensando em nossa sociedade que, mesmo com documentos como o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que visam proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes, se nega, na prática, a garantir o direito fundamental à vida, seja a vida intrauterina, ameaçada pelo aborto, ou a vida de crianças nascidas quando não se possibilita a elas o acesso à educação, saúde, o aconchego de um lar. Uma sociedade que permite às crianças exposição a situações variadas de violência.
Vemos uma realidade que encara a criança não como um ser pensante, filha de Deus, mas como um ser consumista em potencial. Uma triste realidade em que há crianças com obesidade mórbida, depressão, que sofrem abuso... Uma realidade em que não se dá mais limites às crianças, como se a palavra “não” fosse barreira para vê-las felizes, cheias de vida, brincando... Jesus, queremos olhar para as crianças com o seu olhar de predileção e atender ao pedido de Deus Paizinho: “Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar” (Prov 22, 6). Amém.
Iacy Batista Garcia
Casada, mãe, farmacêutica, pedagoga, pós-graduada em Educação em Sexualidade.
GOU São João Batista - Arquidiocese de São Paulo (SP)