Meus caros amigos,
Os pastores são os primeiros a receberem o anúncio do nascimento de Jesus. E podemos perguntar: Quem eram esses pastores? Segundo o costume da época, eram pessoas tidas como violentas; invadiam com os rebanhos as propriedades alheias; e eram conhecidos por se apropriarem da lã, do leite e das crias dos rebanhos. Os pastores eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos, todos incapazes de reconhecer a quem tinham prejudicado e, portanto, incapazes de oferecer uma reparação. Habitualmente eram eles desprezados na grande sociedade. O próprio Cristo irá fazer uma menção a eles no discurso sobre o Bom Pastor (cf. Jo 10,11-16).
São precisamente estes homens os primeiros a testemunhar a vinda de Jesus ao mundo. É para estes pecadores e marginalizados que a chegada de Jesus é uma “boa notícia”, recebida com alegria: chegou a salvação; a partir de agora os pobres, os débeis, os marginalizados e os pecadores são convidados a integrar essa comunidade dos filhos de Deus. Este fato sugere que Deus não os rejeita nem os marginaliza, mas quer lhes apresentar uma proposta de salvação que os leve a integrar a comunidade da Nova Aliança.
O Evangelista São Lucas nos diz que eles “velavam”. Nisto podemos ouvir ressoar um motivo central da mensagem de Jesus, na qual volta, repetidamente e com crescente urgência, o convite à vigilância, a permanecer acordados para nos darmos conta da vinda do Senhor e estarmos preparados para ela. Por isso, também aqui talvez a palavra signifique algo mais do que o simples estar externamente acordados durante as horas noturnas. Os pastores eram pessoas verdadeiramente vigilantes, nas quais estava vivo o sentido de Deus e da sua proximidade; pessoas que estavam à espera de Deus e não se resignavam com o aparente afastamento dele na vida de cada dia. A um coração vigilante pode ser dirigida a mensagem da grande alegria: esta noite nasceu para vós o Salvador. Só o coração vigilante é capaz de crer na mensagem e incutir a coragem de pôr-se a caminho para encontrar Deus nas condições de uma criança no curral.
Lemos ainda no texto: “Quando os anjos os deixaram (...), os pastores disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer. Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,15-16). “Apressaram-se”: diz, literalmente, o texto grego. O que lhes fora anunciado era tão importante que deviam ir imediatamente. Com efeito, o que lhes fora dito ultrapassava totalmente aquilo a que estavam habituados. Mudava o mundo. Nasceu o Salvador. O esperado Filho de Davi veio ao mundo na sua cidade. Certamente eles foram impelidos pela curiosidade e apressaram-se, sem demora. Na nossa vida ordinária, as coisas não acontecem assim. E diante disso podemos perguntar: Estamos dando prioridade às coisas de Deus?
Não podemos esquecer que Deus tem a máxima prioridade. Se alguma coisa na nossa vida merece a nossa pressa, sem demora, isso só pode ser por causa de Deus. São Bento nos diz em sua Regra: “Nada antepor à obra de Deus” (RB 43,3). Também lemos em RB 4,21: “Nada antepor ao amor de Cristo”. Para os monges, a Liturgia é a primeira prioridade; tudo o mais vem depois. Mas, no seu núcleo, estas frases valem para todo o homem. Deus é importante, a realidade absolutamente mais importante da nossa vida. É precisamente esta prioridade que nos ensinam os pastores. Somos chamados a direcionar os nossos passos para Deus, a fim de o deixarmos entrar em nossa vida e no nosso tempo. O tempo reservado para Deus e, a partir dele, para o próximo, nunca é tempo perdido. É o tempo em que vivemos de verdade.
Assim, os primeiros que puderam encontrar o Redentor do mundo foram os pastores; tidos como marginais e desprezados pelos outros. Os sábios vindos do Oriente, os representantes daqueles que possuem nível e nome, chegaram muito mais tarde. Como de fato, os pastores habitavam mais perto. Não necessitavam fazer mais nada senão “atravessar” (cf. Lc 2, 15), como se atravessa um breve espaço para ir ter com os vizinhos. Ao contrário, os sábios residiam longe. Percorreram um caminho longo e difícil para chegar a Belém. E precisavam de guia e de orientação (cf. Mt 2,1-12). Hoje também existem muitos que habitam perto do Senhor, são, por assim dizer, os seus vizinhos, mas a maior parte, vive longe de Jesus Cristo. Muitos vivem em intensas ocupações e o caminho para a manjedoura é muito longo e muitas vezes não encontram a sua direção.
Aos pastores, o anjo tinha indicado como sinal que iram encontrar um menino envolto em panos e deitado em uma manjedoura. Esse é um sinal de reconhecimento, ou seja, uma descrição daquilo que se poderia constatar com os olhos. Mas eles vêem a partir de dentro; vêem isto e constatam como verdade o que foi dito pelo anjo. Assim, os pastores regressam cheios de alegria, glorificam e louvam a Deus por aquilo que tinham ouvido e visto (cf. Lc 2,20).
Tanto os pastores como os magos encontraram o Cristo, não só materialmente, mas espiritualmente: numa palavra, creram. Compreenderam quem era aquele menino e, dessa descoberta ,nasceu o impulso irresistível ao testemunho. Os pastores passaram a anunciar o nascimento do Salvador: “Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino” (Lc 2,17). Assim a fé começa a propagar-se: “Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores” (Lc 2,18).
Neste itinerário exemplar de fé há um ponto que devemos sublinhar com força e tornar nosso, ou seja, a decisão de ir a Belém: “Vamos a Belém”, disseram os pastores. E nós, neste Natal, possamos também decidir: Vamos a Belém. Voltemos à simplicidade e à pureza das origens. Será que nós estamos afastados de Belém? Os pastores falam uns aos outros o motivo pelo qual se colocam a caminho: “Vamos ver o que dizem ter sucedido”. Literalmente o texto grego diz: “Vejamos esta Palavra, que lá aconteceu”. Sim, aqui está a novidade desta noite: a Palavra pode ser vista, porque se fez carne.
O Natal seja para todos nós a festa da paz e da alegria: alegria pelo nascimento do Salvador, Príncipe da paz. Como os pastores, apressemos desde já os nossos passos rumo a Belém. No coração da noite santa também nós poderemos então contemplar o "menino envolvido em panos, deitado em uma manjedoura", juntamente com Maria e José (cf. Lc 2, 12.16). Que este tempo nos conceda um pouco de calma e de alegria; e nos faça ver diretamente a bondade do nosso Deus, que se faz menino para nos salvar e ser uma luz para iluminar o nosso caminho
Que o Senhor nos conceda entrar no mistério do seu Natal e que a Virgem Maria, aquela que doou o seu seio virginal ao Verbo de Deus e o contemplou nos seus braços maternos e continua a oferecê-lo a todos como Redentor do mundo, nos ajude a fazer do Natal uma ocasião de avanço no conhecimento e no amor a Cristo e aos irmãos. Um Feliz e Santo Natal para todos.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB - Mosteiro de São Bento RJ
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