Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal e Liliane Borges
Discurso do Papa aos catequistas na Jornada dos Catequistas no Vaticano,
por
ocasião do Ano da Fé
Sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Queridos catequistas,
Estou feliz que no Ano da Fé haja este encontro para vocês: a catequese é um
pilar para a educação da fé, e precisamos de bons catequistas! Obrigada por
este serviço à Igreja e na Igreja. Mesmo se às vezes possa ser difícil,
trabalha-se tanto, empenha-se e não se veem os resultados desejados, educar na
fé é belo! Ajudar as crianças, os rapazes, os jovens, os adultos a conhecer e a
amar sempre mais o Senhor é uma das aventuras educativas mais belas,
constrói-se a Igreja! “Ser” catequistas! Vejam bem, não disse “fazer” os
catequistas, mas “sê-lo”, porque envolve a vida. Conduz-se ao encontro com
Jesus com as palavras e com a vida, com o testemunho. E “ser” catequistas
requer amor, amor sempre mais forte por Cristo, amor pelo seu povo santo. E
este amor, necessariamente, parte de Cristo.
O que significa este partir de Cristo para um catequista, para vocês, também
para mim, porque também eu sou um catequista?
1. Primeiro de tudo, partir de Cristo significa ter familiaridade com Ele.
Jesus o recomenda com insistência ao discípulos na Última Ceia, quando estava prestes
a viver o dom mais alto do amor, o sacrifício da Cruz. Jesus utiliza a imagem
da videira e dos ramos e diz: permaneçam no meu amor, permaneçam ligados a mim,
como o ramo está ligado à videira. Se somos unidos a Ele, podemos dar frutos, e
esta é a familiaridade com Cristo.
A primeira coisa, para um discípulo, é estar com o Mestre, escutá-lo, aprender
com Ele. E isto vale sempre, é um caminho que dura toda a vida! Para mim, por
exemplo, é muito importante permanecer diante do Tabernáculo; é um estar na
presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele. E isto aquece o coração, mantém
aceso o fogo da amizade, te faz sentir que Ele verdadeiramente te olha, está
próximo a você e te quer bem. Entendo que para vocês não é assim simples:
especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo
longo de calma. Mas, graças a Deus, não é necessário fazer tudo do mesmo modo;
na Igreja há variedade de vocações e variedade de formas espirituais; o
importante é encontrar o modo adequado para estar com o Senhor; e isto se pode,
é possível em toda etapa da vida. Neste momento, cada um pode se perguntar:
como vivo este “estar” com Jesus? Tenho aqueles momentos em que permaneço na
sua presença, em silêncio, deixo-me guiar por Ele? Deixo que o seu fogo aqueça
o meu coração? Se no nosso coração não há o calor de Deus, do seu amor, da sua
ternura, como podemos nós, pobres pecadores, aquecer os corações dos outros?
2. O segundo elemento é este: partir de Cristo significa imitá-Lo no sair de si
e ir ao encontro do outro. Esta é uma experiência bela, e um pouco paradoxal.
Por que? Porque quem coloca no centro da própria vida Cristo sai do centro!
Mais se une a Jesus e Ele se torna o centro da tua vida, mais Ele te faz sair
de ti mesmo, te descentraliza e te abre aos outros. Este é o verdadeiro
dinamismo do amor, este é o movimento do próprio Deus! Deus é o centro, mas é
sempre doação de si, relação, vida que se comunica... Assim nos tornamos também
nós se permanecemos unidos a Cristo, Ele nos faz entrar neste dinamismo do
amor. Onde há verdadeira vida em Cristo, há abertura ao outro, há saída de si
para ir ao encontro do outro em nome de Cristo.
O coração do catequista vive sempre esse movimento de "sístole –
diástole": união com Jesus, encontro com o outro. Sístole – diástole. Se
falta um destes dois movimentos não bate mais, não vive. Recebe como dom o
Kerigma, e por sua vez o oferece como dom. É esta a natureza do próprio
Kerigma: é um dom que gera missão, que impulsiona sempre para fora de si mesmo.
São Paulo dizia: “O amor de Cristo nos impulsiona”, mas este “nos
impulsiona”, pode se traduzir também em “nos possui”. É assim: o amor te atrai
e te envia, te toma e te doa aos outros. Nesta tensão se move o coração do
cristão, em particular o coração do catequista: união com Jesus e encontro com
o outro? Se alimenta no relacionamento com Ele, mas para levá-Lo aos outros? Eu
digo uma coisa para vocês: eu não entendo como um catequista pode permanecer
parado, sem este movimento.
3. O terceiro elemento está sempre nessa linha: partir de Cristo significa não
ter medo de ir com eles às periferias. Me vem à mente a história de Jonas, uma
figura verdadeiramente interessante, especialmente nos nosso tempos de mudanças
e incertezas. Jonas é um homem piedoso, com um a vida tranquila e organizada,
isso o leva a ter os seus esquemas bem claros e a julgar tudo e todos com estes
esquemas, de modo rígido. Por isso, quando o Senhor o chama e lhe diz para ir a
Nínive, a grande cidade pagã, Jonas não quer ir. Nínive está fora de seus
esquemas, é a periferia de seu mundo. E então, ele escapa, foge, embarca em um
navio que vai para longe. Releiam o livro de Jonas! É breve, mas é uma palavra
muito instrutiva, especialmente para nós que estamos na Igreja.
Que coisa nos ensina? Nos ensina a não ter medo de sair dos nosso esquemas para
seguir a Deus, porque Deus vai sempre além, Deus não tem medo das periferias.
Deus é sempre fiel e criativo, não é fechado e por isso nunca é rígido, nos
acolhe, nos vem ao encontro, nos compreende. Para ser fiel, para ser criativo,
é necessário saber mudar. Para permanecer com Deus necessita saber sair, não
ter medo de sair. Se um catequista se deixa dominar pelo medo, é um covarde; se
um catequista está tranquilo ele acaba sendo uma estátua de museu; se um
catequista é rígido se torna encarquilhado e estéril. Pergunto a vocês:
alguém quer ser um covarde, estátua de museu ou estéril?
Mas atenção! Jesus não diz: ide, e se virem. Não! Jesus disse: Ide, eu estou
convosco! Essa é a nossa beleza e a nossa força. Se nós partimos, se saímos
para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito apostólico,
com parresia, Ele caminha conosco, nos precede, é o primeiro sempre. Vocês
aprenderam o sentido dessa palavra. E isso é fundamental para nós: Deus sempre
nos precede! Quando pensamos estar longe, em uma extrema periferia, e
talvez temos um pouco de temor, na verdade Ele já está lá. Jesus nos espera no
coração daquele irmão, em sua carne ferida, em sua vida oprimida, em sua alma
sem fé. Jesus está ali, naquele irmão. Ele sempre nos precede.
Caros catequistas, digo a vocês obrigado por aquilo que fazem, mas, sobretudo,
porque vocês estão na Igreja, no Povo de Deus em caminho. Permaneçamos com
Cristo, procuremos ser sempre uma só coisa com Ele; O sigamos imitando-O
em seu movimento de amor, no seu ir ao encontro do homem; e saiamos, abramos as
portas, tenhamos a audácia de trilhar novas estradas para o anúncio do
Evangelho!
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